terça-feira, 6 de setembro de 2011

O Branco Desbotado


O médico olha os exames e diz.
_ Como eu esperava, seu caso é cirúrgico.
_ Então o senhor vai fazer a cirurgia no meu braço doutor? – Pergunta a paciente, nervosa.
O médico cruza os braços, encosta na cadeira e responde.
_ Não, eu não vou fazer sua cirurgia.
A paciente, toda confusa diz.
_ Mas o senhor não disse que o meu caso é para cirurgia?
_ Sim, foi o que eu disse! Responde o médico.
_ Então o senhor não vai me ajudar a ficar livre dessas dores? - Fala a paciente, já meio chorosa. – O senhor não vai fazer a cirurgia no meu braço?
O médico joga o corpo para frente, apóia os cotovelos na mesa e diz.
_ Veja bem, eu não vou deixar meus pacientes, do consultório, só para fazer sua cirurgia. Não ganho para isso. Procure outro médico.
A paciente, incrédula com o que ouvia, perguntou.
_ Quer dizer então que o senhor vai me abandonar com essas dores?
Eu vou receitar alguns analgésicos e antiinflamatórios. – Diz o médico, já pegando o receituário.
_ Mas não é isso que eu quero. Esses remédios não resolvem mais nada! – Fala a paciente, com o sangue a lhe queimar nas veias. – O senhor então vai me encaminhar para outro médico? – Pergunta ela.
_ Não, eu não vou, não ganho para isso! – Fala o médico, jogando o receituário na mesa. – Vá à recepção e fale com as meninas que elas vão lhe ajudar. Você está de alta. – Termina o dito médico.
A paciente, arrasada, pega sua bolsa e sai, estarrecida com tudo que ouviu ali.
Infelizmente, este é um dos quadros que vemos dentro dos consultórios, de alguns médicos, da rede pública. O descaso, a indiferença, o desprezo para com os pacientes é uma constante, que nos deixam indignados.
Podemos dizer que a saúde pública está na UTI (unidade de terapia intensiva). Quando não são os péssimos médicos, descarregando na população, sua revolta com os baixos honorários, é o próprio sistema que nega ao paciente o tratamento adequado, não lhe oferecendo suporte para exames e tratamentos.
Nossos governantes criam várias siglas sugestivas, para nos convencer que naquele espaço vamos encontrar o tratamento adequado. Só que fazem tal ato, para usarem mais tarde em suas campanhas eleitorais. Não se importam se a nova instituição está realmente atendendo às necessidades da população, fazendo jus ao conceito usado para sua criação. Do que adianta novos ambulatórios, pronto socorro, hospitais se nada funciona! Para que espaços luxuosos, se os profissionais que estão ali não têm o mínimo de respeito pela população que precisa dos serviços que, supostamente, prestam? Mas aqui entre nós, eles criaram, mas não vão se tratar lá, passam bem longe, a quilômetros de distância. Não adianta construir lindos espaços. É preciso muito mais do que isso.
Quando encontramos médicos dedicados e preocupados com a saúde da população, estes são barrados pelo sistema de permissibilidade, ou seja, não encontram suporte para exames e tratamentos. Tudo dependerá dos custos. Aí, os coitados, dos pacientes, vão para longas filas de espera, ou terão que entrar em processos judiciais, ainda mais longos, para terem o “direito” de serem tratados, caso haja tempo para isso.
A situação é crítica e os bons profissionais acabam entrando na roda, por causa de seus “companheiros” mercenários. Muitos profissionais pensam apenas nos ganhos que podem ter e não no que podem realizar.
Faço aqui dois pedidos, o primeiro é de desculpas aos bons profissionais, que devem ficar indignados e com vergonha pelos atos desmedidos e impensados de alguns de seus colegas de profissão. A esses que se dedicam, realmente, ao exercício da medicina, nossos agradecimentos. O segundo é dirigido a toda população. Prestem atenção em quem vão votar. Não dá para ficar brincando de picadeiro com nosso país. Vamos analisar com rigor nossos candidatos, para que o nosso chão não fique manchado com o sangue dos desvalidos e o branco da saúde pública não fique desbotado com a sujeira dos corruptos e dos gananciosos.
Cuidado, pois a história (verídica), contada acima pode acabar sendo a sua.
Luiz Carlos

Um comentário:

  1. Pois é, meus votos de indignação com a saúde pública, da qual em algum momento acabamos sendo vítimas indefesas, porque dependentes, uma vez que não carregamos o conhecimento que os profissionais desse campo, que diz respeito à preservação da vida acima de tudo, detêm.
    Há algo chamado valor de ganância, que parece ofuscar os propósitos da profissão escolhida, confirmando mais uma vez para mim a natureza perversa e sombria do homem, em busca de um maior acúmulo de bens materiais em detrimento, nesse caso, de um bem supremo que é a vida!!!

    ResponderExcluir